As metas globais para redução das emissões de carbono têm repercutido em diversos setores industriais. Em tempos de pandemia, vimos o aumento da percepção de valor das estratégias de crescimento compatíveis com a sustentabilidade. A crise atual reforçou a importância das agendas ambientais como um dos pilares fundamentais para a resiliência das empresas em meio a cenários de incertezas e desafios.
A relação da sustentabilidade com a pandemia é mais estreita do que se imagina. É o que apontou Thomas E. Lovejoy, cientista e especialista em biodiversidade, com décadas de experiência na Amazônia. Em matéria da National Geographic (1), ele lembra que, exceto a poliomielite, que circula apenas entre humanos, a maioria dos agentes transmissores de epidemias faz parte de ciclos naturais que envolvem animais. A perturbação da natureza é o fator principal para o deslocamento e a transmissão de doenças aos seres humanos.
Enquanto lidamos com a pandemia, as mudanças climáticas continuam avançando e causando intensas alterações em todos os ecossistemas, o que provavelmente pesa a favor de patógenos que ainda desconhecemos. Mas, apesar de previsões com cenários difíceis, a pandemia parece ter colocado o mundo em marcha positiva para uma verdadeira “reativação verde”. Segundo especialistas da ONU (2), esse movimento deve incluir um apoio direto e maciço às infraestruturas e tecnologias descarbonizadas, a redução dos subsídios para combustíveis fósseis, o fechamento das centrais elétricas movidas a carvão, o desenvolvimento de “soluções baseadas na natureza” e o reflorestamento em larga escala.
A indústria da construção civil é uma das que exerce impacto mais significativo nas emissões de dióxido de carbono, com atividades ligadas à mineração, transporte, fábricas e produtos químicos. Um processo de mudança tem sido liderado por grupos de pesquisas e profissionais que visam a utilização de novos materiais e soluções. Já há diversos bons exemplos de projetos de edificações e desenhos urbanos que abordam o conceito da neutralidade em carbono.
Neste ano, vimos “Cidades da madeira, bioeconomia e urbanismo” entre um dos nove seminários realizados durante a versão digital da Wood Week 2020 (3). Com a crescente pressão para reduzir a emissão de carbono do ambiente construído, os projetistas de edifícios estão sendo chamados a equilibrar funcionalidade e objetivos de custo com impacto ambiental reduzido, e a madeira pode ajudar a alcançar esse equilíbrio.
A madeira cumpre o objetivo de forma mais sustentável e eficaz do que a alvenaria tradicional, tanto durante seu crescimento como na vida dos edifícios e casas. Segundo a Dr.ª Daniella Abreu, PhD em engenharia civil na área de sustentabilidade pela University of Birmingham (4):
“A madeira tem uma pegada de carbono mais leve que outros materiais de construção comuns e consome muito menos gases de efeito estufa no ciclo de vida. Ela supera o concreto e o aço em termos de energia incorporada, emissões de gases de efeito estufa e poluição da água e do ar”.
Em comparação com as demais opções existentes, as edificações de madeira são mais rápidas de construir e, talvez o mais surpreendente, mais seguras em caso de incêndio. A madeira engenheirada, com espessura superior a 50 mm, é considerada mais resistente que outras estruturas. Isso porque o fogo carboniza apenas a superfície da madeira e cria uma camada de carvão que impossibilita que o oxigênio se espalhe. Dessa forma, ocorre um atraso maior no início do aquecimento e a estrutura interna fica protegida.
Os projetos mais inovadores em madeira se expandem para vários setores: hotéis, residências e imóveis comerciais, mostrando que a madeira pode, sim, ser uma alternativa sustentável ao concreto e ao aço.
Com 85 metros de altura, o Mjøstårnet em Brumunddal na Noruega, tornou-se o edifício de madeira mais alto do mundo em 2019.
Aliadas a um bom trabalho de comunicação e marketing, que mostre os reais benefícios de obras limpas e com materiais sustentáveis, é possível engajar profissionais e clientes com foco no bem estar das pessoas e do planeta. Para que exista a mudança cultural e comportamental, precisamos direcionar esforços na divulgação do conhecimento.
A ideia de se construir com madeira está totalmente ligada com a floresta, afinal, a madeira vem de lá. As florestas devem ser plantadas para esse fim e sustentavelmente manejadas. Em 2021 e nos anos por vir, a expansão das florestas plantadas poderá trazer ainda mais contribuições para as metas de sustentabilidade globais e para o crescimento dos mais variados setores.
Referências:
1 LOVEJOY, T. E. Para evitar pandemias, é preciso respeitar a natureza. National Geographic, 5 de Jun, 2020. Disponível em: <https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2020/06/coronavirus-para-evitar-pandemias-respeitar-a-natureza>. Acesso em: 28/12/2020.
2 ONU. Report of the Secretary-General on the Work of the Organization. 2020. Disponível em: <https://www.un.org/annualreport/>. Acesso em: 28/12/2020.
3 MAIS FLORESTA. Madeira na Construção. 19 de Nov, 2020. Disponível em: <https://www.maisfloresta.com.br/noticias/madeira-na-construcao/especialistas-reafirmam-a-importancia-da-construcao-em-madeira-e-da-implantacao-de-um-urbanismo-sustentavel-com-biocidades-221.html>. Acesso em: 28/12/2020.
4 ABIMCI. Revista Portas de Madeira. Edição IV – 2021, Dez 2020. Disponível em: <https://www.psqportas.com.br/>. Acesso em: 28/12/2020.
1 comentário em “Neutralidade em Carbono no pós Pandemia”
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