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Elevação dos preços, pandemia e agricultura – entenda o cenário

Há cerca de um mês, o preço do arroz disparou nos supermercados brasileiros e assustou os consumidores. Mas a verdade é que, desde o início da pandemia, temos sentido no bolso a elevação de preços dos alimentos, em especial dos itens mais básicos.

O que subiu?

Há cerca de um mês, o preço do arroz disparou nos supermercados brasileiros e assustou os consumidores. Um levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP), mostra que o preço do arroz aumentou 120% nos últimos 12 meses. Mas a verdade é que, desde o início da pandemia, temos sentido no bolso a elevação de preços dos alimentos, em especial dos itens mais básicos.

Além do arroz, feijão e óleo de soja são alguns dos alimentos que registram maior alta na inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE. As aves e ovos também viram os preços acelerarem. A mesma situação se repete com o grupo de leites e derivados, com o leite longa vida 22,99% mais caro em 2020.

Questões econômicas em 2 parágrafos

O movimento de alta dos alimentos está intrinsecamente ligado à queda de juros (taxa Selic a 2%) e ao aumento da moeda injetada na economia pelo Banco Central. Quando se estabelecem cenários assim, o que ocorre é que o câmbio aumenta e o real se desvaloriza. A depreciação do real – em torno de 34% este ano – aumentou a competitividade dos produtos brasileiro no exterior e acabou estimulando a venda das commodities para o mercado internacional. Consequentemente, o que vemos hoje é uma espécie de “disputa” entre mercado externo e mercado interno pela compra de produtos alimentares brasileiros.

Para o produtor, a exportação é uma opção mais atraente já que o valor pago é significativamente melhor. Somado à isso, a demanda da China e de outros países pela compra de alimentos segue forte, em uma tendência que é anterior à pandemia da Covid-19, sobretudo para itens como proteína animal, soja e seus derivados. Estes são os fatores que reduzem o incentivo para abastecimento do mercado interno e levam, portanto, a uma menor disponibilidade dos estoques.

Todo mundo em casa, comendo e cozinhando!

Existe ainda mais um agravante: o aumento da demanda interna (pressão doméstica) frente à menor disponibilidade de produtos. Isto é, temos uma oferta um pouco menor, mas a demanda é crescente, já que todo mundo (e o mundo) está procurando por alimentos básicos e não perecíveis durante o período de crise.

No Brasil, tendo como base da alimentação o arroz e o feijão, é naturalmente esperado o aumento no consumo destes produtos. Esse aumento foi acelerado com as novas rotinas alimentares que se estabeleceram durante a pandemia, quando mais pessoas passaram a comer em casa.

Apesar de algumas ações do governo pressionarem por uma diminuição dos preços nas prateleiras, isso não garante por si só o abastecimento nacional. Além dos fatores macroeconômicos, há outros aspectos importantes a serem ressaltados, como as especificidades de cada setor produtivo, a diminuição das áreas de plantio e até mesmo quebra de safra.

Arroz e feijão: cada um colhe o que planta!

No caso mais expressivo do arroz, o aumento de preço seguramente não está atrelado somente à inflação. A área destinada ao plantio de arroz no Brasil vem diminuindo ao longo dos últimos anos. Muitos produtores acabaram migrando para o cultivo de soja porque os preços do arroz não compensam mais os custos de produção, além de fatores ambientais como pouca água disponível. O levantamento da Conab, disponível no documento “Perspectivas para a agropecuária Safra 2020/21 – Edição grãos“, aponta que houve redução de 40,9% entre a área plantada de arroz na safra 2019/20 em comparação a 2010/11.

No caso do feijão, no momento do plantio da primeira safra deste ano, os produtores diminuíram a área fazendo uma troca do feijão pela soja. Com área menor, a segunda safra, colhida a partir de abril, sofreu com intempéries – estiagem no Paraná, chuva em excesso em Minas Gerais e Goiás. Pouca área plantada, quebra na segunda safra e aumento no consumo do brasileiro causaram pressão sob o preço, para além do problema com o dólar.

Os preços vão permanecer assim por muito tempo?

De acordo com o Ibre (Instituto Brasileiro da Economia), a pressão inflacionária dos alimentos tende a persistir ao nível do consumidor. A variação acumulada poderá chegar a 14,4% ainda este ano. Por outro lado, o aumento da procura incentivará que parte dos produtores migrem de volta para a produção desses alimentos, visando capturar o ganho advindo da alta dos preços.

A produção de arroz em 2020, por exemplo, já deve aumentar 681 mil toneladas em relação ao ano anterior. Nessa perspectiva, espera-se que as safras dos próximos anos sigam batendo recordes e que se restabeleça o equilíbrio de mercado.

Em vista do aumento na demanda por alimentos, com 10 bilhões de pessoas esperadas até 2050, e do agravamento de fatores climáticos e ambientais que impactam a produção, vivemos hoje o momento mais oportuno para revisar o modelo de desenvolvimento econômico e rural, se desejamos construir futuros sustentáveis.

Para virar o jogo, necessitamos de cenários favoráveis à produção de todos os alimentos, e não somente de commodities. Estes cenários podem ser alcançados de diversas maneiras e, avaliar estas soluções em conjunto com àqueles que vivem a realidade do campo e com economistas rurais, é o primeiro passo para elaborar estratégias que funcionem a longo prazo.


Por Ana Julia Ferreira
Mestre em Produção de Alimentos e Gestão de Agroecossistemas
Gerente de Relacionamento – Radix

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